Gilles Clément é engenheiro agrônomo com especialização em paisagismo pela Escola Superior da Paisagem de Versalhes. Ele começou seu trabalho fazendo projetos para grandes áreas verdes mas cedo optou pelo jardim privado.

O jardim, segundo ele, sintetiza constantes universais que superam as circunstâncias, as modas e, inclusive, a época. Seus materiais o incitam a falar de uma função biológica, de uma função vital. Tudo isso participa de um movimento de energias.
Daí saiu a ideia do jardim em movimento, no qual o paisagista trabalha prestando uma pequena ajuda à natureza, selecionando e semeando centenas de espécies misturadas.
O seu jardim é o resultado do comportamento destas espécies, com seus florescimentos, frutificações, brotações ou mortes sucessivas. No fundo ele quer enfatizar os processos naturais sem encerrá-los em uma forma pré-determinada. Para ele isso não é grave, seu propósito não é esse. Ele quer que a natureza participe da sua invenção.
A ação do paisagista na concepção de Clément poderia estar associada à de uma enzima, um catalizador; ele potencializaria processos. Um trabalho instigante, que fica no limite entre a atividade artística e o deixar a natureza predominar.
Dessa maneira, Clément se opõe a representar os elementos da paisagem como elementos arquitetônicos, ou seja, privando-os da sua natureza dinâmica. Para ele, o paisagista tem uma oportunidade única de trabalhar com um material do qual desconhece a dimensão final.

“Ao criar uma forma provida de uma incerteza, tem-se a possibilidade de transcrever um sonho. Criam-se imagens do que virá a acontecer dentro de um tempo determinado. Mas é possível que nunca chegue a ser da maneira pensada, porque na paisagem todas as certezas são descartadas”.

 

Ele confessa também que os belos jardins o aborrecem: ” são muito explícitos para que possamos descobrir o que quer que seja, com suas misturas de cores, seus maciços sob forma de estrelas… que horror”.

 

Em contraposição, nos deparamos com uma natureza que “produz emoções, medo, bem estar…”.

 

Mas para bem ou mal, o jardim está na moda, ele costuma afirmar. Em uma época pouco alegre, Clément considera, no entanto, que o jardim engaja o indivíduo a uma visão feliz de futuro. Planta-se para já e para o amanhã: unem-se assim todas as escalas de tempo.

 

Ana Rosa de Oliveira, in Vitruvius.

Disponível em www.vitruvius.com.br

Este foi um trabalho que realizamos com essa inspiração na Praça Central de Nova Petrópolis-RS